20 jan Por mais equilíbrio na relação trabalho-família
Por mais equilíbrio na relação trabalho-família
Pandemia deu lugar à crise da saúde mental e emocional, que é invisível e não declarada.
Quem começou o ano novo com a resolução de buscar um maior equilíbrio entre a vida familiar e profissional, iniciou com o pé direito.
Um relatório lançado recentemente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra a importância de uma melhor conciliação entre trabalho e família, tanto para o mundo do trabalho como para a saúde e vida pessoal.
O estudo mostra que mais de um terço de todos os trabalhadores trabalha mais de 48 horas por semana, sendo esta situação mais prevalente na economia informal. Longas jornadas são geralmente associadas a uma menor produtividade do trabalho e menor qualidade na relação casa-trabalho. Segundo dados da Pnad Contínua, no Brasil, a média de horas trabalhadas por semana é 39,5, bem superior à média dos países da OCDE (37,4 horas semanais). Os trabalhadores por conta própria apresentam jornadas mais longas: em média, de 45,5 horas.
A covid-19 desencadeou aumento de 25% na ansiedade e depressão em todo o mundo, piorando situação que já era grave
Se trabalhar muito é um problema, trabalhar pouco também pode significar uma subutilização da mão de obra. Estima-se que cerca de 20% da força de trabalho tenha uma jornada inferior a 35 horas, o que pode indicar a prevalência de empregos parciais e mais precários.
Para as empresas, atribulações entre trabalho e família podem trazer impactos negativos sobre os níveis de desempenho, motivação e produtividade, maior absenteísmo e problemas de gestão da equipe.
Para os trabalhadores, a falta de equilíbrio entre a vida laboral e pessoal podem levar à deterioração do bem-estar e da saúde mental e emocional, incluindo aumento da ansiedade, estresse, burnout, depressão e abuso de substâncias.
As medidas adotadas durante a pandemia da covid-19 produziram novas evidências de que proporcionar aos trabalhadores maior flexibilidade sobre como, onde e quando trabalhar pode ser positivo para trabalhadores e empresas, por exemplo, ao melhorar a produtividade. Por outro lado, restringir a flexibilidade traz custos substanciais, incluindo uma maior rotatividade de pessoal.
Nos países desenvolvidos, o chamado fenômeno da ‘Grande Demissão’ colocou o equilíbrio trabalho-vida pessoal no topo das questões sociais e do mercado de trabalho no pós-pandemia. Nos países em desenvolvimento, caracterizados por altas taxas de informalidade, a maior parte dos trabalhadores não pode sequer considerar esta opção.
Se por um lado, a ascensão do trabalho remoto durante a pandemia trouxe maior flexibilidade para a organização do tempo de trabalho, por outro lado fez com que lares se convertessem em ambientes de trabalho. Em princípio, pensávamos que o home-office poderia gerar oportunidades para passar mais tempo com a família, em razão da diminuição de deslocamentos e flexibilidade de horários. Entretanto, estudos demonstram que, em muitos casos, houve aumento das horas trabalhadas, menor sociabilização, mudança de rotina, prejuízo com respeito ao desenvolvimento de habilidades comportamentais, como a comunicação e a inteligência emocional, além de novos desafios relacionados à saúde e segurança no trabalho (SST).
Estudos da OIT e OMS revelam que a covid-19 desencadeou um aumento de 25% na ansiedade e depressão em todo o mundo, deteriorando uma situação que já era grave. Segundo a OMS, em 2019, cerca de um bilhão de pessoas (15% da população em idade ativa) sofria de depressão.
Os dados demonstram que a pandemia deu lugar à crise da saúde mental e emocional, que é invisível e não declarada.
À medida que empregados regressam ao trabalho presencial, surgem novos desafios relacionados à ressocialização e ao convívio pessoal após um longo período de distanciamento físico, temor, luto e insegurança, e é fundamental que governos, empresas e sindicatos tenham um papel proativo na promoção de ambientes de trabalho seguros e saudáveis.
Mas como?
Primeiramente, é fundamental fortalecer os marcos regulatórios sobre o tempo máximo de trabalho e os períodos de descanso. Estas são conquistas que contribuem para a saúde e bem-estar a longo prazo de uma sociedade e não devem ser postas em risco. Entretanto, países que experimentaram a redução da jornada de trabalho combinada com acordos inovadores sobre horário de trabalho lograram criar sistemas inclusivos para manter o emprego e poder de compra. A regulação do teletrabalho e a adoção de protocolos de SST relacionados ao trabalho remoto também são fundamentais.
Em segundo lugar, fazer a gestão dos riscos psicossociais no lugar de trabalho, seja na empresa ou no home office. É importante que os empregadores implementem medidas institucionais para avaliar e imediatamente mitigar, modificar ou eliminar os riscos para a saúde mental no local de trabalho.
Terceiro, a capacitação de gestores e empregados. Os gestores devem estar prontos para reconhecer e responder às dificuldades das pessoas com angústia emocional sob sua supervisão. Para tanto, devem desenvolver competências interpessoais como a comunicação aberta e escuta ativa e empática e compreender melhor de que maneira os fatores estressantes no trabalho podem afetar a saúde mental e como gerenciá-los. Da mesma forma, os empregados devem ser sensibilizados acerca da saúde mental para melhorar o conhecimento e reduzir a estigmatização.
Quarto, inclusão. Pessoas com problemas psicossociais devem ter a chance de prosperar no trabalho de forma plena e equitativa, por meio de ajustes no local de trabalho, programas de reinserção, iniciativas de oportunidades de emprego com apoio específico às pessoas com problemas graves e estabelecimento de marco regulatório pertinente em consulta tripartite.
Sorry, the comment form is closed at this time.