EUA preferem trabalho home office; Europa e Ásia voltam ao presencial

EUA preferem trabalho home office; Europa e Ásia voltam ao presencial

Publicado em 1 de março de 2023

Taxa de ocupação de edifícios comerciais nos EUA se mantêm entre 40% e 60% dos níveis pré-pandemia; na Europa chega a 90% e, na Ásia, a 110%.

Três anos após o começo da pandemia, os escritórios estão meio vazios nos EUA, enquanto na Europa e na Ásia os locais de trabalho estão movimentados novamente.

Os americanos adotaram o trabalho a distância e deram as costas para os escritórios com uma regularidade maior do que seus colegas no exterior. A taxa de ocupação dos escritórios nos EUA está em algo entre 40% e 60% dos níveis pré-pandemia, variando dentro desse intervalo dependendo do mês e da cidade. Isso se compara a uma taxa de 70% a 90% na Europa e no Oriente Médio, segundo a JLL, uma empresa de serviços imobiliários que administra cerca de 430 milhões de metros quadrados de imóveis no mundo.

A volta ao escritório foi ainda mais comum na Ásia, segundo a JLL, onde as taxas variam de 80% a 110% — o que significa que em algumas cidades há mais pessoas nos escritórios hoje do que antes da pandemia de covid-19.

Casas maiores, deslocamentos mais longos e um mercado de trabalho mais apertado ajudam a explicar por que os americanos estão passando menos tempo no escritório do que os europeus e os asiáticos, segundo consultores especializados em locais de trabalho.

Essa divergência nos hábitos de retorno ao escritório não só beneficiam os proprietários estrangeiros mais do que seus pares nos EUA, como também tem um impacto direto sobre a rapidez com que as áreas metropolitanas se recuperam do choque econômico causado pela pandemia. Cidades da Europa e Ásia se recuperaram relativamente bem. Mas prédios de escritórios vazios e a ausência de passageiros minaram a recuperação em cidades americanas como Nova York e San Francisco, onde restaurantes, lojas e outros negócios que têm os trabalhadores de escritórios como seus clientes principais estão sofrendo.

O número de desempregados na cidade de Nova York aumentou em 83,5 mil entre o começo de 2020 e o terceiro trimestre de 2022, com a taxa de desemprego na cidade subindo acima da média nacional, segundo um relatório do New School Center for New York City Affairs. Muitos dos que perderam seus empregos trabalhavam em Manhattan em setores presenciais como varejo, hospedagem e serviços de alimentação.

Embora Manhattan tenha sido particularmente afetada por causa de sua dependência dos trabalhadores que usam o transporte público, outros distritos comerciais importantes dos EUA também estão com dificuldades. A queda nos preços dos escritórios ameaça afetar os orçamentos das cidades que dependem dos impostos sobre propriedades. O menor número de usuários no transporte público está pesando nas finanças dos administradores do setor. Adicionar mais apartamentos poderá ajudar a revitalizar os distritos comerciais centrais, mas isso levará tempo.

Várias capitais internacionais passaram por períodos em que mais de 75% de seus trabalhadores retornaram às suas mesas em 2021 e 2022, segundo a JLL. Isso inclui Tóquio, Seul e Cingapura, na Ásia. Paris liderou regularmente a lista de trabalhadores que voltaram ao escritório na Europa. Estocolmo não ficou longe, com vários meses apresentando uma taxa de retorno ao escritório de mais de 75%.

Nenhuma das grandes cidades americanas monitoradas pela JLL obteve taxa de retorno tão alta durante esse período. “Os EUA foram os mais atingidos por isso”, diz Phil Ryan, diretor de futuros das cidades da JLL.

As condições de vida são uma das razões para a diferença nos hábitos de trabalho. Os americanos têm uma propensão maior de viver em casas suburbanas espaçosas. Isso torna mais fácil criar um escritório em casa à prova de distrações. Os pequenos apartamentos de Hong Kong, por exemplo, frequentemente abrigam várias gerações, o que torna o trabalho em casa menos atraente.

A expansão suburbana significa que muitos americanos enfrentam percursos até o trabalho que são mais longos e tediosos, atormentados por engarrafamentos de trânsito cada vez maiores — outro motivo para ficar em casa. Embora muitas cidades europeias também tenham deslocamentos médios longos, Nova York e Chicago são insuperáveis, segundo a companhia de serviços de mobilidade Moovit. Os sistemas de transporte público da Europa e Ásia muitas vezes são mais confiáveis e menos propensos a atrasos, o que torna mais fácil chegar ao trabalho.

“Temos cidades de alta densidade com sistemas de transporte público eficientes”, diz Caroline Pontifex, diretora de experiência no local de trabalho da consultoria KKS Savills. “Isso faz diferença.”

Outra explicação para a excepcionalidade dos escritórios nos EUA é o mercado de trabalho. A taxa de desemprego nos EUA, de 3,4%, é pouco mais da metade da taxa de desemprego na União Europeia, de 6,1%. Embora a Europa também enfrente falta de mão de obra, as empresas dos EUA são particularmente atingidas pelo problema, segundo Ryan da JLL.

Isso as vem forçando a procurar funcionários mais longe e contratar remotamente. As empresas de tecnologia, que respondem por uma parcela particularmente alta do emprego em algumas grandes cidades americanas, há muito têm sido mais tolerantes com o trabalho a distância.

As companhias de co-working também estão informando taxas de ocupação menores em algumas cidades dos EUA. A WeWork disse que 72% de suas mesas em Nova York estavam alugadas no quarto trimestre de 2022, em comparação a 80% em Paris, 81% em Londres e 82% em Cingapura.

Os consultores de locais de trabalho acreditam que a diferença do uso dos escritórios entre os EUA e o resto do mundo persistirá. Não ajuda o fato de que os escritórios nos EUA estavam mais vazios muito antes da pandemia. Um excesso de construção levou a altas taxas de vacância e, mesmo em escritórios alugados as empresas tendiam a colocar menos pessoas em cada andar do que as companhias europeias e asiáticas.

Todo esse espaço vazio está agora criando um ciclo de reforço negativo, segundo Phil Kirschner, sócio da firma de consultoria empresarial McKinsey, aumentando a probabilidade das pessoas permanecerem em casa. Os escritórios quase vazios tornam a experiência deprimente, deixando os americanos mais propensos a ficar em casa.

Fonte: Valor Econômico
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