19 nov Impacto da jornada menor tem de ser estudado, diz secretário
Impacto da jornada menor tem de ser estudado, diz secretário
Boletim Macrofiscal busca trazer evidências sobre porque o mercado de trabalho aquecido não tem pressionado a inflação como ocorria antes.
Em meio às discussões sobre a redução da escala de trabalho 6×1, o Ministério da Fazenda publicou um boxe no Boletim Macrofiscal divulgado nesta segunda-feira que traz evidências sobre o crescimento da produtividade na economia e no mercado de trabalho. Nos debates sobre o tema, esses fatores são citados com frequência.
O boxe não trata especificamente de jornada de trabalho. Seu propósito é trazer evidências sobre por que o mercado de trabalho aquecido não tem pressionado a inflação da forma como ocorria no passado. Uma das hipóteses levantadas para explicar esse fenômeno é justamente o aumento da produtividade.
Questionado sobre o impacto desses achados no debate sobre a redução da escala 6×1, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, afirmou que ganhos de produtividade facilitam o processo. “Tornam menos impactante a redução das horas trabalhadas.”
Os impactos econômicos de uma eventual redução de jornada, porém, necessitam de mais estudos, disse o secretário. “A própria evidência acadêmica que se produziu é mista, não é conclusiva”, disse. “Qualquer pessoa que vier a colocar certezas graníticas sobre o que vai acontecer com eventual mudança, acho que estará vendendo uma crença, não um fato.”
Embora o aumento na produtividade torne o processo mais “tranquilo” em termos de impacto econômico, esse não é um elemento simples de aferir, acrescentou.
A redução da jornada de trabalho ganhou as redes sociais e está em discussão no Congresso Nacional, por iniciativa da deputada Erika Hilton (Psol-SP), que apresentou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) a respeito.
Um ponto de resistência à mudança é o aumento de custo que pode acarretar às empresas. Entre os críticos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na semana passada que a ideia é prejudicial ao trabalhador, pois aumenta o custo do trabalho e a informalidade e reduz a produtividade.
O boxe relaciona o comportamento do mercado de trabalho com a inflação de serviços. Os números mostram que a relação vista de 2013 a fevereiro de 2020 era uma, e a observada desde então é outra. “A inflação de serviços subjacentes e sensíveis à ociosidade tem se situado em patamar inferior ao que seria esperado com esse nível de aperto do mercado de trabalho”, diz. “A menor elasticidade de métricas de inflação de serviços ao aperto no mercado de trabalho pode estar associada a ganhos de produtividade, que possibilitariam compensar elevações salariais decorrentes do aquecimento no mercado de trabalho.”
Além disso, a maior oferta de empregos ajuda a tornar o mercado de trabalho mais produtivo, aponta o trabalho. Isso ocorre porque as pessoas podem optar por empregos que paguem mais ou que estejam mais relacionados com sua área de especialidade.
Existem ainda evidências que o emprego aumentou mais nas faixas mais escolarizadas. De 2019 até o segundo trimestre de 2024, a população ocupada com ensino superior aumentou 19,5%, enquanto a com nível médio avançou 13,4%. Já a população ocupada com nível básico ou sem instrução, recuou 12%.
Porém, os trabalhadores com nível superior estão com o rendimento 3,3% menor, enquanto aqueles com nível médio tiveram aumento de 0,5%, e os com nível básico, 5,1%.
“Tanto o aumento da produtividade derivado da maior escolaridade da população ocupada como a menor expansão do rendimento para essa classe de trabalhadores, devido à maior disponibilidade de mão de obra, ajudam a explicar a ausência de pressões inflacionárias mais significativas dado o grau de aperto no mercado de trabalho.”
O boxe mostra ainda que foi baixo o retorno ao trabalho no pós-pandemia da população de 14 a 17 anos, principalmente entre negros, pardos e indígenas. “Esse fenômeno pode ser associado à decisão de finalizar o ensino médio, possibilitada, entre outros fatores, pelas políticas de transferência de renda condicionadas à matrícula e à frequência escolar.” De 2019 a 2023 houve aumento de 2,8% no total de alunos matriculados no ensino médio, aponta.
Também houve baixo retorno ao trabalho das mulheres de 25 a 59 anos. O principal motivo apontado é a necessidade de cuidar de filhos ou idosos em casa.
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