Semana de quatro dias reduz jornada de 43 para 35 horas

Semana de quatro dias reduz jornada de 43 para 35 horas

Publicado em 11 de abril de 2025

Empresas participantes avaliam de forma positiva a experiência e mantêm a mudança após um ano.

Após um ano do início do programa piloto da semana de quatro dias de trabalho no Brasil, as 19 empresas envolvidas decidiram permanecer com o formato de trabalho reduzido. Do total, 46,2% optaram por manter o modelo original, conforme proposto pela 4 Day Week Global, organização que criou a metodologia. As demais (53,8%) seguem testando internamente, fazendo modificações conforme as suas necessidades.

“No caso das empresas que decidiram manter o modelo de forma permanente, significa que a semana de quatro dias se tornou um benefício estruturado, assim como outros, como o vale refeição”, explica Renata Rivetti, sócia da Reconnect, consultoria especializada na construção de culturas de bem-estar aliadas aos negócios e parceira do projeto no Brasil. “As outras ainda estão testando modelos, tentando entender o que funciona. Algumas reduziram a semana de quatro dias para duas ou três semanas por mês, por exemplo. Existe uma variação de como funciona em cada empresa.”

A consultoria de seleção de executivos Plongê, com dez funcionários, retirou a sexta-feira da jornada de trabalho. Renata Fabrini, sócia da consultoria, diz que a mentalidade inovadora da empresa, fundada há dez anos, levou à experimentação da semana de quatro dias. Inicialmente, para conhecer e aplicar processos que otimizassem o trabalho e gerassem mais produtividade. “A decisão foi a de experimentar, mesmo que a gente não adotasse a semana de quatro dias”, revela Cabrini. “Foi bem impactante no sentido de criar cultura de alto desempenho, e fez sentido manter [a jornada reduzida] com todos os resultados [conquistados].”

A empresa viu sua receita e produtividade subirem quase 15% em 2024, com menos projetos em andamento, só que mais complexos. “A cultura de alto desempenho deu gás no time”, diz Fabrini.

De forma prática, a equipe passou a fazer uso de blocos na agenda para, por exemplo, trabalho de foco – processo recomendado para aumento de produtividade. Rivetti explica que, apesar da ampla aceitação no senso comum de que somos multitarefas, diversas pesquisas e a neurociência mostram que fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo traz improdutividade, ao invés de ajudar a fazer as coisas mais rápidas. “Na verdade, você leva mais tempo e com pior qualidade”, diz. O “deep work”, ela continua, sem distrações e gatilhos externos, “é a forma de conseguir entregar tudo com qualidade e em menos tempo”.

Além de reservar tempo na agenda para o trabalho de foco, o time da Plongê passou a usar melhor as ferramentas tecnológicas, como concentrar as conversas de trabalho no Teams, usando menos o WhatsApp, o que evita distração com assuntos de fora do trabalho no momento de checar o aplicativo de mensagens. É sabido, por estudos, que quando alguém se distrai leva cerca de 23 minutos para retomar suas atividades.

Outro ponto foi melhorar a comunicação remota. As pessoas da equipe passaram a escrever em uma só mensagem tudo o que precisa ser dito, ao invés de escrever em várias mensagens, de forma fragmentada, e interromper a outra pessoa várias vezes.

Fabrini comenta que com a redução da jornada o time ficou ainda mais engajado. “Hoje posso dizer que a gente tem senso de dono mesmo em quem não é sócio.”

Ela diz, ainda, que a consultoria já trabalhava com a metodologia de gestão OKR, que define e acompanha objetivos e resultados por projeto, o que facilitou a implementação da redução da semana. O maior desafio, afirma Fabrini, é mesmo respeitar o tempo da mudança e adotar novas ferramentas.

Em média, nas 19 empresas participantes do piloto da semana de quatro dias, as horas trabalhadas caíram de 43 horas semanais para 35, após um ano. A avaliação geral dos participantes, em uma escala até 10, ficou em 9,1. O comprometimento com a empresa alcançou 9,3, e realização e satisfação no trabalho registraram 8,4. O bem-estar foi avaliado em 8,2.

O piloto ajudou os participantes a reduzirem a participação em reuniões sem agenda definida (39,1%) e fazerem o questionamento de atividades não fundamentais (40,4%). “A semana de quatro dias traz um ponto importante que é falarmos de direitos e deveres”, diz Rivetti. “Não adianta estar em uma empresa que dá a semana de quatro dias, e os líderes fazerem microgerenciamento. Isso não funciona”. Para ela, se de um lado os funcionários precisam de autorresponsabilidade para o modelo funcionar, de outro, a liderança deve trabalhar em relações que tenham mais confiança.

A segunda edição do piloto, antes prevista, não acontecerá por enquanto. “Observando o mercado, percebemos que as empresas querem inovar, mas ainda não estão preparadas”, diz Gabriela Brasil, consultora da 4 Day Week Global no Brasil. “Em 2025, o foco está em educação e preparação das empresas, antes de embarcarem no piloto [com consultorias individuais].”

Fonte: Valor Econômico
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